13.2.07

Semana Existencialismo Crônico
Essa está sendo minha semana 'nostalgia'. Não necessariamente algo de bom. Nem tão ruim. Algo estranho. Nostalgia estranha. Tanto que nem sei explicar exatamente se tenho saudades de coisas e lugares e pessoas e sentimentos ou não.
Quando tento explicar pra alguém, esse alguém diz que entende. Mas juro que não. Tenho amigas ou amigos que já viveram fora do país, já experimentaram um pouco da vida cigana, mas não. Não foi igual, te juro. E não, não foi de um mesmo ponto de vista. Não foi na mesma época. Não foi pela mesma quantidade de tempo. Não foi com as mesmas pessoas. Além disso, foi somente este ano, depois de tantos, que recebi minha primeira visita oficial. Digo, primeira pessoa que fez-está fazendo-faz-fará parte da minha vida brasileira. Foi esta pessoa a primeira a ver um jogo meu. Primeira pessoa a ver onde vivo, com quem vivo, o que faço, como falo, como vou, como sou fora de casa (casa: quartel general no caso, apartamento dos meus pais, Brasil). Ela sim pode dizer agora que entende um pedacinho dessa minha nostalgia estranha. Claro, quando conversarmos algum dia, num futuro mais distante, sobre o meu agora.
E porque nostalgia estranha? Porque eu ainda tenho minhas dúvidas. Ainda acho que tem coisas que eu não fiz. Ou se fiz, parece que sonhei. E tem dia que acordo no meio da noite, bato o olho ao meu redor, e pergunto-me onde estou. Faço uma vista grossa do ambiente, vejo que estou no meu quarto italiano, com Emílio, coberta de bolinhas, duas janelas, guarda-roupas com postais. É necessário entender antes de tudo, além de onde estou, quando estou. Viro pro lado, e volto a dormir. O mesmo acontecia em Nebraska, na California, nos tantos cantos da Alemanha, na Espanha, aqui, e sempre, mas sempre, no Brasil. E no Brasil é a parte mais difícil, porque a grande maioria dos meus sonhos são ligados ao Brasil. Ou seja, a probabilidade de eu pensar que estou realmente sonhando que estou no meu quarto brasileiro é maior ainda.
Gente que passou então. Eu vejo fotos. É estranho! Eu era próxima daquelas pessoas. Era íntima de algumas. E agora estão do outro lado de lá. Nem mantenho contato. São raros o que insistem ou eu insisto em querer saber se existo ou existem ainda.
As páginas do meu livro são viradas tão rapidamente que meses parecem anos, e anos parecem décadas. Aprender uma língua, por exemplo. Eu levei três meses pra desembrulhar o italiano. Juro que esses três meses foram infinitos. Depois dos elogios de estranhos, depois de um papo de uns dez minutos ao telefone, depois de pedir informação, depois de ir ao médico sozinha, depois de pequenas coisas do cotidiano é que cai a ficha e completo a ligação: eu falo italiano (ou perto disso).
É assim. O ritmo é forte. A compreensão tem que ser rápida. Como se o dedo estivesse lambido, prontro pra próxima página, sendo que a última mal foi virada.
Posso gritar agora?

6 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Pode, filhinha, pode. Às vezes, precisa gritar... Entendo: esses dilemmas estão presentes em toda a vida. E tua vida tem sido diferente da maioria dos seus amigos. Você está vivendo, já adulta, o que tentei evitar quando criança: mudanças seguidas de cidade, de amigos, de escola, o que não deixa criar raízes. Mas, a vida segue!!!

02:31  
Blogger Célia Spegel said...

Parece que mais do que nunca a única referência sobre você é você mesma e toda a bagagem louca e incrível que você carrega ;)
Isso é um elogio, viu! =*

16:09  
Anonymous Anonymous said...

Neguinha do coração...
Acho que nossas visões de vida se cruzam de certa forma. Como o tio disse, tanto eu quanto vc acabamos optando(?) por vidas diferentes da maioria do povo que conhecemos. Cheias de desafios e mudanças constantes e as vezes chatíssimas, porque queríamos paz e "mesmisse" naquele momento em que passa o furacão. As suas certamente são mais "físicas" que as minhas, mas a adaptação às adversidades é ao meu ver do mesmo tipo. Exige coragem, determinação, paciência e sangue frio...
As vezes, nessas idas e vindas do cotidiano, a vida se enche de significado, da mesma forma que, de uma hora pra outra, se esvazia rapidamente dele.
E quer saber? O negócio é viver intensamente esse vazio ou essa fartura de significado, pra tudo valer a pena.
Pode Gritar que te acompanho, porque depois vamos comer uma pizza e dar gargalhadas de doer a barriga.
Beijoca

17:31  
Blogger Glauco Paiva said...

Sim, pode.
Você grita, logo existe.

21:45  
Anonymous Anonymous said...

necaOi Neguinha, pode gritar sim e mesmo que seja baixinho eu consigo te ouvir, você sabe disso.
Bjos com saudades.

01:44  
Anonymous Anonymous said...

¡Joder, mujer! Você está certa: eu morro de raiva quando alguém tenta me dizer que já passou por isso e tenta me olhar de cima, como se fosse superior por já morar fora há mais tempo. Cada um tem o seu momento, as experiências são vividas com intensidades diferentes por pessoas diferentes. Ponto final. Quer companhia para gritar? Pues avísame que tengo algo en la garganta atora'o.

00:17  

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