Semana Existencialismo Crônico
Essa está sendo minha semana 'nostalgia'. Não necessariamente algo de bom. Nem tão ruim. Algo estranho. Nostalgia estranha. Tanto que nem sei explicar exatamente se tenho saudades de coisas e lugares e pessoas e sentimentos ou não.
Quando tento explicar pra alguém, esse alguém diz que entende. Mas juro que não. Tenho amigas ou amigos que já viveram fora do país, já experimentaram um pouco da vida cigana, mas não. Não foi igual, te juro. E não, não foi de um mesmo ponto de vista. Não foi na mesma época. Não foi pela mesma quantidade de tempo. Não foi com as mesmas pessoas. Além disso, foi somente este ano, depois de tantos, que recebi minha primeira visita oficial. Digo, primeira pessoa que fez-está fazendo-faz-fará parte da minha vida brasileira. Foi esta pessoa a primeira a ver um jogo meu. Primeira pessoa a ver onde vivo, com quem vivo, o que faço, como falo, como vou, como sou fora de casa (casa: quartel general no caso, apartamento dos meus pais, Brasil). Ela sim pode dizer agora que entende um pedacinho dessa minha nostalgia estranha. Claro, quando conversarmos algum dia, num futuro mais distante, sobre o meu agora.
E porque nostalgia estranha? Porque eu ainda tenho minhas dúvidas. Ainda acho que tem coisas que eu não fiz. Ou se fiz, parece que sonhei. E tem dia que acordo no meio da noite, bato o olho ao meu redor, e pergunto-me onde estou. Faço uma vista grossa do ambiente, vejo que estou no meu quarto italiano, com Emílio, coberta de bolinhas, duas janelas, guarda-roupas com postais. É necessário entender antes de tudo, além de onde estou, quando estou. Viro pro lado, e volto a dormir. O mesmo acontecia em Nebraska, na California, nos tantos cantos da Alemanha, na Espanha, aqui, e sempre, mas sempre, no Brasil. E no Brasil é a parte mais difícil, porque a grande maioria dos meus sonhos são ligados ao Brasil. Ou seja, a probabilidade de eu pensar que estou realmente sonhando que estou no meu quarto brasileiro é maior ainda.
Gente que passou então. Eu vejo fotos. É estranho! Eu era próxima daquelas pessoas. Era íntima de algumas. E agora estão do outro lado de lá. Nem mantenho contato. São raros o que insistem ou eu insisto em querer saber se existo ou existem ainda.
As páginas do meu livro são viradas tão rapidamente que meses parecem anos, e anos parecem décadas. Aprender uma língua, por exemplo. Eu levei três meses pra desembrulhar o italiano. Juro que esses três meses foram infinitos. Depois dos elogios de estranhos, depois de um papo de uns dez minutos ao telefone, depois de pedir informação, depois de ir ao médico sozinha, depois de pequenas coisas do cotidiano é que cai a ficha e completo a ligação: eu falo italiano (ou perto disso).
É assim. O ritmo é forte. A compreensão tem que ser rápida. Como se o dedo estivesse lambido, prontro pra próxima página, sendo que a última mal foi virada.
Posso gritar agora?